segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O primeiro amor


“Eu não fui convidada”, esse era seu último pensamento sempre que se preparava para dormir. E quando conseguia, sonhava com isso e o sonho era tão triste quanto a realidade. Ao acordar, por alguns minutos parecia ter se esquecido, mas o vestido ainda estava intacto, ao pé da cama, lembrando sua insignificância.

Não tinha saco pro café, quanto mais praquele arroz grudado à panela, que sua mãe havia deixado às 7h quando saiu pro trabalho. Pensou em ir à escola, mas estava de férias, há um bom tempo. Até chegou a dar alguns passos em direção ao bar mais próximo, mas uma garota tão nova e bebendo sozinha não ia pegar muito bem, nem ela precisava de um momento tão deprimente assim. Poderia não aguentar.


Tinha alguns cd’s antigos, do tempo em que diskman era presente de natal e mesmo que escolhesse algum, não ouviria uma música sem que isso te trouxesse alguma lembrança dele. Ainda esperava alguma explicação, um telefonema, uma carta, um e-mail... Mais, muito mais do que isso, esperava que o convite chegasse, mesmo que com atraso, mas valeria a intenção.


Parecia estar próximo do dia e o convite não chegou, nem mesmo havia sido confeccionado. Ela não foi convidada porque não haveria mais festa, nem alegria, nem flores, nem altar. Mas o vestido permaneceria ali, intacto, ao pé da cama esperando, por quem sabe, alguém que um dia a tirasse pra dançar, de novo.

Engraçado como o primeiro amor, -e todos os outros, antes do derradeiro-, nos parecem eternos. São as mesmas promessas, as mesmas verdades, as mesmas mentiras que sempre nos convencem e caímos. Que bom, porque uma hora o vestido deixará de compor o antigo cenário!